Por muito tempo, um filho adolescente dentro de casa — especialmente em seu próprio quarto — representou segurança para muitos pais. No entanto, na era digital, esse mesmo cenário pode ecoar como um pedido velado por atenção. Afinal, por trás de uma porta, podem existir telas que escondem uma forma de violência silenciosa e, por vezes, brutal: o cyberbullying.
Segundo o assessor de segurança dos colégios da Rede Positivo, Fernando Brafmann, atualmente houve uma inversão para os jovens, o “mundo on-line” se tornou “mundo real”. “Muitos deles passam mais tempo conectados a dispositivos eletrônicos e à internet do que brincando, jogando, passeando ou socializando e interagindo presencialmente com outros seres humanos”.
Com o avanço da tecnologia, muitos adolescentes passaram a habitar em um mundo, de certa forma, desconhecido para os pais. O que torna essa geração vulnerável a diversas formas de violência cibernéticas, especialmente o cyberbullying em adolescentes.
De acordo com Fernando Brafmann, o cyberbullying caracteriza-se por “agressões verbais, humilhações ou ameaças feitas por meio de redes sociais, aplicativos de mensagens ou jogos on-line”. Além disso, ele afirma que, devido à velocidade de propagação pela rede, esse tipo de violência tornou-se um dos problemas mais recorrentes atualmente.
Além do cyberbullying, o especialista listou outros riscos, como:
A minissérie britânica Adolescência, da Netflix, lançada em março de 2025, conta a história de Jamie Miller (Owen Cooper), um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega de escola. Ao retratar os bastidores emocionais dessa fase da vida, a série acendeu um importante alerta para pais, responsáveis e educadores: é necessário direcionar um olhar mais atento e sensível ao universo dos jovens. Além disso, a trama revela como conflitos internos, muitas vezes imperceptíveis aos adultos, podem coexistir com uma rotina aparentemente tranquila.
A especialista em Psicologia Educacional, do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento (CIPP) dos colégios da Rede Positivo, Michelle Cristina Norberto Martins afirma que “mesmo adolescentes que estão inseridos em um contexto familiar, que têm uma afetividade, que estão inseridos em uma escola, que demonstram bons resultados, têm amigos e vínculos, podem vivenciar intensos conflitos”.
E é justamente na lacuna entre aparência e realidade que reside o perigo das violências como o cyberbullying. Essa é uma fase em que os jovens passam por mudanças intensas — autoimagem, pertencimento, saúde mental e relacionamentos se tornam temas cruciais, contudo, sem o repertório emocional necessário para lidar com isso.
Diante disso, Michelle reforça: “Quando o adolescente não tem esse suporte ou essa intervenção adequada, o sofrimento que era algo natural dessa fase pode se agravar e virar um sofrimento emocional, e até desenvolver transtornos mentais como depressão e ansiedade”.
Para identificar os sinais é necessário observar o comportamento do adolescente no dia a dia. Michelle orienta: “Estar disposto a entender e a ouvir aquilo que não é dito, aquilo que não é comunicado oralmente pelo adolescente, mas, sim, o que é comunicado por gestos”.
Segundo Fernando e Michelle, algumas ações que merecem atenção incluem:
As estratégias mais eficazes contra o cyberbullying em adolescentes envolvem o diálogo, a educação e o uso consciente de ferramentas tecnológicas. Brafmann explica que “é imprescindível que pais busquem conhecer e entender como é a ‘vida on-line’ de seus filhos, fazendo com que as estratégias de proteção sejam compartilhadas e aplicadas como medidas de ‘cuidado’ e não de monitoramento ou ‘espionagem’”.
Ele recomenda atitudes práticas como estabelecer regras claras de uso da internet, manter um diálogo constante e acolhedor, ensinar desde cedo sobre segurança digital, configurar adequadamente a privacidade de redes e aplicativos, e utilizar ferramentas de controle parental com transparência. Além disso, o especialista em segurança reforça que os adultos devem dar o exemplo, adotando hábitos saudáveis no ambiente digital.
“Entenda que, ao entregar um celular a seu filho, você está abrindo uma porta para um enorme mundo. Assim como no ‘mundo real’, é fundamental preparar e proteger a criança antes de liberá-la para caminhar sozinha”, completa Brafmann.
Diante desses casos, é importante agir com rapidez e assertividade, entendendo se existe algo indevido acontecendo para preservar a segurança do jovem. Além disso, Brafmann destaca outras medidas importantes que podem ser feitas:
Proteger os adolescentes do cyberbullying começa muito antes do primeiro clique. Requer presença, confiança, escuta e ações consistentes, tanto no ambiente digital quanto no real. Como Michelle destaca, é preciso desenvolver “uma escuta que seja livre de julgamentos, que dê abertura para esse diálogo, que não seja só o adulto dando orientações para o adolescente”.
Afinal, como a série Adolescência nos mostra, é na conexão genuína entre gerações que os maiores aprendizados acontecem.
Quer saber mais sobre o assunto? Assista ao podcast a seguir, que aborda o controle parental de conteúdo.